sexta-feira, 5 de junho de 2009

IZGNANIE


Izgnanie, Andrei Zvyagintsev, 2006.

Foi tentando decorar o nome do diretor de O Retorno(2003) que eu descobri Izgnanie, o filme que vou guardar pra sempre como o primeiro que consegui baixar na net (seguido daquela sensação de que a rede põe o mundo em nossas mãos). Por isso e pela grata satisfação de ter um filme que não foi lançado no Brasil, sinto-me no dever de comentar algo sobre ele.

Bem, pra quem não assistiu O Retorno: NÃO PERCA TEMPO!!! Esse filme foi a estréia de Andrei Zvyagintsev, arrebatou o Leão de Ouro e (fato menos importante) entrou na minha lista como um dos 5 melhores filmes dessa década. Aliás, Veneza confirmou minha impressão com esse prêmio em particular de que permanece há um bom tempo como o festival que melhor tem sabido premiar. Foi por sua estréia que Andrei me conquistou, por isso, ao descobrir que em 2006 tinha sido lançado outro filme seu, desesperei-me, isso até a duas semanas ter conseguido baixá-lo e enfim assisti-lo ontem à noite (foi difícil demorar pra vê-lo com ele me esperando em casa, mas a correria...)

Bem, infelizmente pude constatar por críticas na net que o filme não foi bem recebido. Acusado de filmar à sombra do conterrâneo Andrei Tarkovski, Izgnanie parece ter sido relegado a um mero exercício de estilo e homenagem ao mestre russo. Discordo! OK, ele não alcança nem de perto a carga dramática de O Retorno, mas ignorá-lo sem levar em conta o potencial que o diretor revela possuir no tratamento da imagem cinematográfica é um pecado. Afinal, desde O Retorno, Andrei (o novo) tinha declarado sua herança à Tarkovski, explícita é verdade, mas qual o problema?? Acho que o cinema atual só teria a ganhar com mais discípulos desse mestre. O fato de um diretor escolher viver à sombra de outro (De Palma com Hitchcock é um exemplo que só me traz boas recordações) não significa ser ele incapaz de criar algo próprio dentro mesmo da releitura pretendida.


Aliás, não é só a Tarkovski que Izgnanie pode ser comparado. Sim, está tudo lá, a lentidão, as árvores, os córregos, os travellings, a mansão isolada... Mas também está lá toda a problematização do espaço natural, principalmente quando em oposição ao urbano desértico e vazio que os carros solitários percorrem (poderíamos falar do futuro de Solaris, mas acho que o nome de Antonioni e seu Deserto Vermelho seriam mais apropriados no sentido simbólico que essa apresentação do urbano permite). Também está lá a incomunicabilidade do italiano citado, assim como a desintegração de relacionamentos presente em vários momentos de Bergman, nome indispensável aqui, pois se há um claro objetivo em Izgnanie é criar a atmosfera de um oratório fúnebre, oferecer sensorialmente pelas imagens e os ruídos da trilha (bem aproveitada) a percepção da morte entre aqueles que sobrevivem a ela (a referência a Gritos e Sussurros é gritante pra mim).

Apenas para situar, o filme (traduzido para o inglês como The Banishment) narra a história de um homem que vai com sua família passar um tempo na casa isolada que pertencera a seu pai. Lá, sua esposa lhe revela estar grávida, mas de outro homem, e ela conta isso sorrindo. O perturbador tratamento existencialista que Andrei talha em cima desses dois personagens, na decisão que o homem tem de tomar entre perdoar ou mesmo matá-la de raiva, e na indecisão que a mulher demonstra a todo tempo sem poder explicar se está arrependida ou não, traz uma inquietação que se instala até os minutos finais, quando um flashback sugere uma nova possibilidade para a gravidez que torna os acontecimentos muito mais amargos (não posso contar tudo...).


Comparações à parte, Izgnanie permanece em mim não como uma obra-prima, mas como uma promessa de Andrei. Não consigo deixar de dar um desconto para jovens cineastas que se revelam promissores, principalmente aqueles que conseguem a proeza de acertar na primeira tentativa. Não sei, talvez a partir daqui ele decline (tenho vários exemplos assim), mas o que sei é que não importa o que virá, O Retorno permanecerá como é pra sempre.

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