sexta-feira, 5 de junho de 2009

AO LADO DO MURO

Ao Lado do Muro, Cristhiano Aguiar, Meta Editora, 2006.

Sentir o calor do primeiro beijo, saborear o último gole como se fosse o primeiro, emocionar-se com o filme como se tivesse acabado de estrear no cinema. Difícil voltar ao primeiro amor de uma descoberta. Bom lembrá-lo.

Quando me deparei com o conto “Álvaro” na primeira Crispim (dessa nova fase que a revista está vivendo), me desloquei. O tratamento com a linguagem, a força da imagem sugerida, o reflexo carregado na memória persistindo em ficar, tudo me dizia: eu estava diante de literatura. Não me enganei.

O livro de contos “Ao Lado do Muro” de Cristhiano Aguiar (estréia do autor) é uma grata surpresa. Sua inconformidade com o real escorre por cada página e o conto que dá nome ao livro deixa muito claro seu objetivo e sua visão de literatura. O menino que, sobre um muro, não sabe se cai para um lado (lugar seguro) ou para outro (lugar onde será devorado por cães) é apresentado sem muita piedade, e no fim, não saberemos seu destino. O que nos é dado saber é a própria escolha de Cristhiano, em toda conseqüência de sua queda.

Se ele divide a obra em dois blocos (LADO X MURO) é para que percebamos que cada um deles representa a opção que o menino tinha. Mas as conclusões não são fáceis. Em LADO temos uma exaltação ao estranhamento, ao improvável, um descarte à verossimilhança que revela a independência de sua criatividade ao tentar significar seu real particular. Em MURO encontramos toda a dor da realidade concreta, mas sob títulos que carregam em si uma poeticidade suficiente para também (re)significar os textos.

Bem, confesso que apesar de tudo, não consegui reviver no livro em si, a satisfação que tive com “Álvaro” (também presente na obra), mas tudo bem. Descobri que “felizes são aqueles cuja mente é uma membrana” (p.21) e para o bem ou para o mal, em vários momentos Cristhiano, você conseguiu tocar nessa minha membrana.

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