CABEÇAS FALANTES

Cabeças Falantes, Gadajace Glowy, Krzysztof Kieslowski, 1980.

Krzysztof Kieslowski (polonês, 1941-1996), até então um dos meus cineastas favoritos e que com tudo que consegui para assistir, permanece em franca ascendência no meu coração. Por enquanto, posso escrever algumas linhas sobre o fascinante Cabeças Falantes (tradução minha do título). Nele, Kieslowski procura inúmeras pessoas para indagar 3 questões a todas:

Em que ano você nasceu?

Quem é você?

O que você mais deseja?

A escolha dos participantes ocorre numa gradativa cronologia que vai se distanciando anualmente do ano em que o filme foi realizado (1980). Assim, o primeiro entrevistado é um bebê de 1 aninho que ainda nem sabe falar! Daí, vemos rapidamente a sucessão de pessoas, cada uma com o ano do nascimento devidamente legendado, até chegarmos a uma anciã de 100 anos!Acho que dá pra imaginar que as mais inusitadas respostas surgem não apenas entre as crianças, mas também entre os adultos. Claro que eu não vou fazer uma análise das respostas, nem tão pouco mencionar uma a uma, mas há uma em especial (ou melhor, duas) que eu não podia deixar passar.

“Nada” é a resposta que o menino de dois aninhos consegue articular para a pergunta de seu desejo. “Nada” também é a exclamação da penúltima senhora entrevistada (96 anos). Acho que dá pra todo mundo concluir algo com isso, né? Inocência da infância, satisfação ou ilusão dela que retorna na velhice (retorno à infância)... Bem, o que mais me satisfez, foi não ficar nessa simples conclusão de que a idade avançada retrocede à mais tenra idade; isso ao ver a resposta da última mulher:

O que você mais deseja?

“Viver mais... Muito mais.”

Um filme de apenas 15 minutos... Feito para a televisão... Prova de que nossos longas atuais, para nem querer pensar na televisão de hoje, são meios absolutamente desperdiçados de reflexão. O problema não está nos meios, mas no que o homem faz com eles.

Quanto ao meu desejo? Há... que Kieslowski viva mais... muito mais...