sexta-feira, 5 de junho de 2009

POR UMA POIÉSIS ORIGINAL


2001 - Uma Odisséia no Espaço, Stanley Kubrick, 1968.

A minha impressão a respeito da arte e dos problemas apontados por muitos que sugerem o fim das artes com a atual banalização dos suportes, não ignora que os citados problemas talvez sejam necessários para o desenvolvimento da mesma. Desenvolvimento não num sentido evolutivo, mas como se inserido num processo cíclico de sobrevivência. Sobrevivência da representação. Se a arte contemporânea autotelicamente reflete sobre seus meios e intenções, sobre sua materialidade e a pretensa noção de conteúdo, chegando a prescindir do suporte artístico sem abandonar a presença poiética, assim o faz para provar e testificar que a transcendência estética não apenas ainda é possível, como ela pode se dar sob uma perspectiva original.

O original em arte surgiria assim, em diálogo com a própria origem da arte e da representação humana. A diluição do suporte, dos conteúdos, da compreensão habitualmente ligada por um ‘dar a ver’, privilegia um retorno natural e contínuo aos anseios que levaram o homem desde épocas primitivas a se expressar para existir. Substituímos a proposição ‘dar a ver’ por um ‘dar a sentir’, compreendendo que o atual período agônico das artes anuncia não um fim, mas um início.

As palavras acima, parte de uma reflexão que venho desenvolvendo por incentivo da profª Sueli Cavendish, surgem de uma particular compreensão não apenas da arte contemporânea, mas de como o primitivo pode ser percebido como um dos objetivos centrais da arte moderna. Particularidades em jogo, em Água Viva encontramos vários momentos em que Clarice menciona beber nas eras antigas, misticamente revelando-se ter atravessado toda a história do mundo e do homem, aflorando a partir disso o senso de ubiqüidade (onipresença) tão almejado pelo(s) último(s) [2] século(s) [por toda história da representação humana].

Somos o hoje. Somos o ontem. Futuro? Somos.

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