sexta-feira, 5 de junho de 2009

CINEMA 3D


Disque M Para Matar, Alfred Hitchcock, 1954.

Recentemente tenho refletido um pouco a respeito da tridimensionalidade visual que o cinema almeja alcançar através da movimentação das câmeras e dos recursos da montagem. Capturar a totalidade da matéria física parece ser um dos objetivos das artes contemporâneas que antes se pautavam (limitavam) ao plano bidimensional. A pintura com o cubismo, as novas ousadias das artes plásticas e mesmo o conceito de performance clamam pela destruição dos limites de representação em arte.

No cinema, um interessante recurso mal explorado é o de imagem 3D. Algo me diz que isso vai virar moda. O prenúncio do cinemagame Pequenos Espiões 3D, em continuidade com uma nova adaptação de Verne e todos os trailers que vi de animações feitas para o recurso 3D indicam ser essa a nova onda do cinema infanto-juvenil. Ter assistido Viagem ao Centro da Terra lá em SP, com aquele óculos desconfortável era uma experiência que eu tinha certeza: seria desagradável. Me enganei. Revivi toda a nostalgia de uma inocência perdida, inocência de tempos em que o cinema não passava de mero entretenimento, mera diversão, risada e pipoca. OK, acho que evoluí desse estágio, mas filmes assim precisam existir!!! É certo que esse filme sem o óculos, fora de um multiplex, vai ser uma porcaria, mas dentro das condições exigidas ele cumpre seu papel com perfeição. Tudo é uma questão de disposição espiritual!

Enfim, não vou me ater aos méritos ou erros que o filme carrega (os últimos são maiores claro, mas quem está ligando pra verossimilhança ou estética aqui?), porém tenho que mencionar um ponto que me fez pensar. Na época dos Pequenos Espiões também fui ao cinema para experimentar a novidade (acho que o 3D me atrai mesmo), mas lá tudo era muito virtual. Nesse filme novo há muitas cenas normais, filmadas em cenários naturais com atores humanos, além de vários minutos em que não se apela para o recurso de jogar coisas contra a câmera para assustar o espectador (mas isso acontece bastante também), e como foi bonito ver a imagem cinematográfica sob uma nova possibilidade de visão! As cenas em que os personagens escalavam uma montanha, ou caminhavam numa paisagem, ou mesmo conversavam numa casa, ganhavam uma profundidade com gostinho de novidade, daquele estranhamento que faz tão bem em um filme. Fiquei imaginando o que esse recurso poderia fazer nas mãos de um verdadeiro autor cinematográfico... Ver um desses filmes cabeça, de arte (às vezes percebo como nós cinéfilos somos metidos à besta) com o recurso 3D deve ser interessante... Bem, por enquanto acho que só posso ficar sonhando. Sonhando em como seria ter assistido Disque M Para Matar da forma que Hitchcock queria que nós tivéssemos assistido (ele concebeu o filme para 3D, foi barrado pela produtora). Ver aquele abajur, a profundidade do apartamento, o sonho de Grace Kelly, e a queda do assassino assassinado sobre nossa cabeça...

Que bom, sou um discípulo fiel, o 3D também atraía Hitchc...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Algo para mim?