sexta-feira, 5 de junho de 2009

DA PALAVRA POÉTICA


A Vida dos Outros, Florian Henckel Von Donnersmarck, 2006.

A memorável noite passada no Instituto Arte Plural desvendou um pouco mais em mim sobre o estado e o fazer poético literário. O encontro, motivado pelo debate acerca de O Retábulo de Jerônimo Bosch, com amigos, críticos, intelectuais e artistas, além da presença do autor Everardo Norões, foi uma pequena amostra do que pode significar ao espírito um diálogo de sabedorias.

Em suas primeiras palavras, Everardo mencionou como motivação maior de sua criação a seguinte pergunta:

“O que existe debaixo das palavras?”


Em notória concordância ao que identifiquei em seus versos (ver post mais abaixo, O OUTRO LADO), o autor discorreu brevemente sobre essa necessidade poética. Cabe aqui, lembrar suas próprias palavras em entrevista a Fábio Andrade, para a Revista Crispim nº2:

“A poesia tem que ir além. (...) Para que a Poesia sobreviva, ela tem que revelar todas essas coisas que o olho comum não vê. Porque ela faz parte do mundo, de uma realidade e, entre todas as linguagens, é a mais revolucionária, porque utiliza os artefatos simbólicos de nossa imaginação sem limites. Ou seja, pode ir a qualquer lugar, a qualquer tempo. (...) A Poesia precisa de arrancar raízes, viajar pelos horizontes mais estranhos. Mas, ao mesmo tempo, precisa guardar o cheiro de nossos quintais. É um grande desafio, mas é por isso que ela sobreviverá com mais força...”

Nem preciso dizer mais nada... Sob o entendimento que as palavras nos guardam, flutuam em nós, e permanecem sobre nossos corpos e mentes como na bela fusão amorosa retratada acima, deixo alguns recortes do poema Mancha (p.41):

/.../
Sob as palavras
tudo se transfigura:
/.../
Sobre nós flutua
o encoberto,
/.../
Sob as palavras,
tudo se derrama,
/.../
(Everardo Norões)

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