sexta-feira, 5 de junho de 2009

MILLENIUM MAMBO


Millennium Mambo, Hou Hsiao-Hsien, 2001.

Particularmente, gosto muito do ritmo tão peculiar aos orientais de fazer cinema. Dos mais antigões até o que está sendo feito agora, nesse momento mesmo, predominam uma leveza no olhar, na forma como se enxerga o mundo, os atos humanos e da natureza, que não se encontram na cinematografia de nenhum ocidental metido à besta. Por isso, conhecer a obra de um grande nome oriental é sempre um prazer. Mesmo que o filme não seja bom...

Claro, como todo comentário a respeito de um filme, o ser ou não ser bom está impregnado de toda a subjetividade por parte de quem viu o filme, no caso, não é bom para aquela pessoa: eu. É, pareço um pouco confuso para me expressar, mas é que dá até um receio de manchar um nome ou uma obra que não mereçam minha torcida de nariz. Como diz minha grande mestra, professora e amiga Maria do Carmo Nino, é fácil falar do que a gente gosta, mas vai tentar falar do que não gosta pra ver no que dá...

É, parece que eu não gostei de Millennium Mambo, o filme que conheci essa semana com a galera do Dissenso. Mas calma, na hora eu disse que gostei. Então, vamos por partes:

A história do filme, os personagens, a ambientação, a coerência e ousadia por parte de Hsiao-Hsien em nos apresentar um bando de humanos tão destruídos interiormente pra mim soaram louváveis. O filme mostra sem dó, a vida de uma jovem que escolheu viver de vícios, libertinagem, sem nada de útil pra fazer (coisa típica da juventude). Nada precisa ser justificado, problemas no passado, traumas, não se precisa disso pra viver assim. Tudo é uma questão de escolha. Isso me atrai no filme. Adoro poder ver pela arte realidades distantes da minha, daquela que eu escolhi viver. Isso me possibilita pesar na balança um pouco melhor quem eu sou, o que pretendo fazer com minha vida. E a jovem de Millennium Mambo retrata um oposto de quem sou. Ótimo! Por isso disse que gostei do filme.

O que não gostei: aquilo que mais valorizo num filme: os ângulos... Perdoem-me colegas, rememorei bastante o filme, cada vez mais sinto que tudo ali foi muito gratuito, sem qualquer intenção formal. Não muito no sentido da direção de arte (as cores são bem colocadas, os detalhes), mas nos ângulos mesmo! Quase nenhum daqueles longos takes teve força suficiente para me segurar até o fim sem pensar “que saco” (apesar de ser um pensamento coerente com a narrativa, pois aquela jovem ociosa é um saco de agüentar). Foi aí que pegou. Faltou pra mim a leveza do olhar oriental que eu mencionei no início, aquele tipo de ângulo que sozinho consegue me fazer voar pra fora do corpo. Não encontrei nenhum momento assim em todo o filme (a única promessa se deu na abertura, ângulo acima).

Bem, entre o que gostei e não gostei afirmo: recomendo que todos assistam. Eu mesmo pretendo revê-lo, pois Hermano (e aqui passo a me dirigir ao pessoal mesmo) o defendeu tão apaixonadamente que me deixou em dúvida se o que senti foi o que eu não devia ter sentido ou sei lá, quem dita o que devemos sentir??? Desabafo: saí do filme asfixiado com a fumaça dos cigarros daquela personagem (algum outro filme na história do cinema mostrou alguém acendendo tantos cigarros assim?), dei graças a Deus por não ter visto num cinema pois teria ficado surdo com toda aquela insuportável música eletrônica (ok, confesso, li uns textos na net que me convenceram, afirmando que esse é o primeiro filme a fazer uso narrativo desse tipo de música, que é um meio intersemiótico fiel dessa concepção de sons, o problema é comigo mesmo por não gostar desse 'barulho'), por último: quem me explica o título brega???

Puxa, nem vou corrigir tudo que escrevi até aqui porque senão vou cortar muita coisa cruel. É o primeiro texto em que ajo assim. Como pretendo rever, repensar mais, meus comentários por aqui ainda não podem ser tão completos. Estou certo que alguns vão estranhar a forma como escrevi hoje, nesse sentido o filme valeu muito: deu uma cara nova pra minha escrita...

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