sexta-feira, 5 de junho de 2009

POR QUÊ (NÃO)???


Bang Bang, Andréa Tonacci, 1971.

Eu afirmei que não gostei, não me arrependo. Pô, acho mesmo que Tonacci fez a masturbação artística conceituada por Woody Allen, fez um filme pra si próprio. Não que daí nós não possamos inferir inúmeras interpretações e significados, só acho que não era essa a intenção dele.

O fato é que por vários momentos eu me perguntava “Por quê eu estou aqui sentado, vendo essa merda? Por quê eu sou obrigado a engolir que um cara com máscara de macaco durante incontáveis minutos olhando pra uma câmera e ‘cantando’ uma coisa brega, por quê eu preciso aceitar isso como arte?” Mas ao mesmo tempo me questionava: “E por quê não?”

Várias vezes pensei em abandonar a projeção (principalmente nas cenas internas), mas isso não é meu estilo (só fiz isso uma vez na minha vida), por isso agüentei até o fim. E valeu a pena! Pra compensar, existem várias cenas (destaco quase todas as externas, principalmente as que se levam pelo movimento hipnótico dos automóveis) que me deram prazer. E como! Encontrar referências a Godard, Clair, Meliès, e tantos outros foi um prazer e ao mesmo tempo uma inquietação, pois elas vieram em demasia (acho mesmo que todos os momentos que eu admirei foi por causa dessas relações), deixando-me a dúvida se Tonacci seria capaz de fazer algo próprio de que eu gostasse.

Enfim, dá pra falar muita coisa sobre essa obra e acho que ela vai entrar no meu conceito como aquelas as quais nunca gosto muito de assistir, mas sim de lembrar. Godard novamente é o exemplo máximo nesse quesito. Confesso sem inibição que acho a maioria dos filmes dele um saco enquanto da projeção, mas depois, o sabor da memória é muuuuito satisfatório. Acho isso muito importante como estilo de cinema, afinal lidamos aí com uma arte da memória, do poder da imagem que se imprime na lembrança para eternidade (com mais força do que na própria película).

Por tudo isso o dissenso interior que Bang Bang me causou com certeza me marcou para sempre (incluo aí todo o labor pra fazer com que o áudio do filme fosse ouvido...). Valeu galera, continuemos assim.

12 comentários:

  1. Nando,

    Na comunidade do Tonacci tem um topico sobre o filme [com 50 posts]:

    "FILMOGRAFIA - BANG BANG - TEXTO":


    http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=3160444&tid=2591395997253468192


    ________________

    abrx

    mrlx

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  2. BANG BANG - TEXTO NELSON AGUILAR
    AGUILAR, Nelson Alfredo. “Câmera dentro do filme”.
    Suplemento Literário de O Estado de São Paulo em 20/05/1973.
    Vide texto reproduzido na edição 79 - dossiê - da revista eletrônica:
    http://www.contracampo.com.br/79/artnelsonaguilar.htm

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  3. BANG BANG - TEXTO PAULO E. SALLES GOMES
    GOMES, Paulo Emílio Salles. “Os exibidores se esqueceram desse filme”.
    In: Jornal da Tarde, 21/04/1973.
    Vide texto reproduzido na edição 79 - dossiê - da revista eletrônica de cinema:

    http://www.contracampo.com.br/79/artpauloemilio.htm

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    mrl-x

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  4. REVISTA PAISA - 3 LUGAR - TOP 20
    FURTADO, Filipe. “Bang, Bang, de Andrea Tonacci (1970)”.

    Vide texto sobre o filme, que ficou em 3º lugar na lista dos melhores do cinema brasileiro, na enquete realizada pela revista eletrônica de cinema:

    http://www.revistapaisa.com.br/anteriores/ed9/topsbr.shtm#top20

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    3 – Bang Bang, de Andrea Tonacci (1970)

    “Filipe, escreve aí um texto sobre Bang Bang, já que você o colocou em primeiro lugar na sua lista”, me pede o Sérgio ao telefone. OK escrever sobre Bang Bang, pior seria justificar por que Bang Bang é meu filme brasileiro favorito. Não é das tarefas mais fáceis, porque Bang Bang não é como outros filmes, ele é um organismo vivo – mais do que qualquer outro filme que eu conheça – que parece estar sempre se movendo em diversas direções ao mesmo tempo. Tentar justificá-lo, explicá-lo, é uma tarefa fadada a não lhe fazer justiça.
    Mas vamos lá: Bang Bang é um filme feito com a câmera. Parece óbvio, mas não é. Um filme cujas imagens pulsam, uma espécie de musical construído no tripé câmera-ator-espaço. (Por sinal, o ator em questão é um Paulo César Pereio iluminado, provavelmente no grande momento da sua carreira). Bang Bang não tem quase trama. A não ser que levemos em conta que o protagonista está sendo perseguido por um bando de criminosos, o que o filme tem é uma série de situações inventivas. Mesmo depois de revê-lo diversas vezes, Bang Bang ainda me pega de surpresa, nunca se pode saber ao certo o que vem a seguir. O filme é por vezes falastrão, por outra silêncio... gracioso, em outro momento grosseiro, é uma comédia maluca e um drama desesperado. Há momentos em que chego a imaginar que estamos diante de um texto originário que contém todo o cinema. Numa das minhas cenas favoritas, Tonacci refilma a caçada ao rinoceronte de Hatari! – que calha de ser o meu filme favorito, é sempre curioso como certas coisas se sintonizam – num maravilhoso travelling completo com a trilha original de Henry Mancini.
    Sempre que penso em Bang Bang me lembro de falar com meu amigo Eduardo Aguilar sobre o

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  5. filme e ele me responder “Filipe, este é o tipo de filme que faz com que nós queiramos fazer outro filme”. E este é, sem dúvidas, o maior elogio que posso fazer a esta obra-prima de Tonacci.


    (Filipe Furtado)

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  6. Bang Bang (Andrea Tonacci /1970)

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    Costumo comparar a expectativa de assistir a um filme com a de ir a um estádio ver um jogo de futebol. Todo o clima que envolve os dois espetáculos faz com que essas sejam duas de minhas paixões, desde o momento em que o árbitro apita pela primeira vez até a escalada dos créditos finais na tela escura. E um dos motivos que me leva a ser tão exigente em relação às duas artes é o clima de mistério que as envolve e que dispensa qualquer sintoma de previsibilidade. Assistir a um jogo de futebol é estar preparado para o inesperado, ter noção de que em três minutos ou com quatro ou cinco passes se resolve uma partida e até mesmo um campeonato. E no cinema não é diferente, cada tomada é uma nova surpresa, um mundo aberto de possibilidades que nos olha clamando por uma reação, seja ela qual for. Esta pequena digressão cabe perfeitamente na minha avaliação pessoal de Bang Bang, o filme de Andrea Tonacci que incendiou o cinema brasileiro na virada de 1970 para 71. Por rejeitar totalmente as estruturas narrativas convencionais e jogar a cartilha popular pela janela, o filme é de um experimentalismo que chega até a incomodar (no bom sentido). Digo que seria o Araçá Azul em película, caso necessitasse de uma definição mais exata. Tonacci funde composições estéticas, vai do road-movie a uma espécie de faroeste urbano sem restrições, movendo sua câmera em planos abertos como se quisesse desvendar os ambientes por onde suas personagens passam e homogeneizá-los num só componente. Já no início vemos uma cena de eminente controle técnico, onde dois homens discutem dentro de um carro e, não conseguindo chegar a um acordo, vemos a estagnação do diálogo até que o ato físico se consuma. Tudo num só grandioso plano seqüência.


    A aura de incomunicabilidade extraída dessa cena é o mote de todo o filme: em momento algum há o intuito de ser coerente com os moldes convencionais do cinema, sendo que há um fiapo mínimo narrativo, as personagens não são caracterizadas, não sabemos quem são, de onde vêm ou o que pensam, e não há a definição e nem a preocupação de inserir toda a trama num gênero específico. O que parece estar em jogo é o potencial de radicalizar, de suprir as necessidades do cinema buscando novos parâmetros de filmagem, negando a conivência com o público em prol de uma consistência própria. É o cinema indo a fundo numa viagem transformadora, buscando uma possível reintegração com sua identidade original e fazendo do espectador o time adversário. Só ao final de 90 minutos saberemos que venceu a partida.

    ***
    Fonte:
    http://cineman.blogspot.com/2007_08_01_archive.html

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  7. Email que mandei pro Cine Polvo [sobre o filme]:

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    Leo,


    Boa noite!


    Li seu texto abaixo e tome a liberdade de fazer alguns comentários

    e dar alguns toques


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    alguns toques abaixo sobre 'Bang Bang' do Tonacci:

    Parte do seu texto:



    "Por uma estética sertaneja, ou, sobretudo, por um projeto estético mineiro"


    [...]


    "... como, por exemplo, Belo Horizonte o é em Bang Bang. A capital de Minas é vista em seus diversos pontos de vista, a câmera sobe por elevadores,..."


    [daria tudo para estar domingo aí em BH e andar no Centro da cidade para descobrir onde foram gravadas aquelas cenas do hall do Hotel e do elevador.

    Acho que este Hotel é perto da Praça da Estação, no inicio da Avenida Amazonas. Mas não lembro o nome... minha memória me confunde. Tenho certeza que já entrei neste hall de Hotel, mas não consigo lembrar o nome do Hotel]


    "... percorre os meandros e estruturas de uma cidade magnânima, olhada pelo alto, de cima, por vezes inatingível e indecifrável, ao mesmo tempo convidativa e hostil (cheia de seus meliantes e figuras bizarras, como os três bandidos que transitam em sua busca absurda que se dá em boa parte do filme; eles estão, até mesmo, encostados no vidro de um bar onde o personagem de Paulo César Pereio flerta com um mulher".


    [Leo, eu acredito que as imagens foram rodadas em um Hotel de nome 'Excelsior', já que nas imagens do tiroteio, onde o Pereio mata o bandido no alto do prédio, dá pra ler o letreiro: "'SEGUROS MIN... - HOTEL EX....". (aos 28m 38s do filme). Não sei se nesta época [1970] tinha algum Hotel com esse nome em BH. Acho que sim]

    [A cena do bar com certeza foi gravada em BH. Mas não consigo me lembrar seu nome e em que bairro estava localizado. Acho que era na Savassi]

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  8. Veja abaixo link do youtube de um filme de 12 segundos "Praça Sete e Savassi", onde aparece a Praça Sete sem o obelisco (pirulito) e a Praça da Savassi com o obelisco (ao fundo se vê a Padaria que deu nome ao local - Padaria Savassi - e que depois virou um loja/boutique da TOULON no inicio da década de 70]
    http://www.youtube.com/watch?v=xWaFglz_-PY
    e de um filme com o obelisco sendo colocado na praça da Savassi:
    http://www.youtube.com/watch?v=npISY_QCSKE

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  9. "...enquanto, no interior do carro, ele se debate com o taxista ao mesmo tempo em que a luz que estoura a fotografia no exterior é por vezes a expressão de um mundo que se mostra naturalmente, sem filtros, sem interferência; no interior do veículo, a encenação, lá fora a vida sem filtros (em artigo pela Revista Contracampo, Rodrigo de Oliveira vai dizer, a respeito do cinema de Andrea Tonacci, que “o que acontece na tela é sempre o encontro de uma câmera com um mundo e com os temas que surgem dele, não apenas como aquele caminho obrigatório pelo qual passa qualquer um que faça um filme, mas como a própria motivação em fazê-lo”). O confronto, uma briga sem motivos aparentes, sem pretextos, só existe dentro daquele espaço: a discussão dentro do automóvel se dá pelas idas e vindas, erros de percurso dentro da cidade de Belo Horizonte. Temos um cinema que vai se criando pelo momento e pelo traçado e acontecimentos do entorno.

    Quando Jura Otero dança um sapateado do alto de um prédio, a cidade, ao fundo, é, ao mesmo tempo, cenário e parte do espetáculo."



    [A 'cidade' ao fundo não é Belo Horizonte. Esta cena com certeza foi gravada na cidade de São Paulo. O Geraldo Veloso [montador do filme] pode confirmar (assim acredito) isso]

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  10. outros toques:

    1- As cenas gravadas de estrada/carros foram feitas na estrada para a cidade de Itabirito, onde em diversas tomadas dá pra ver, ao fundo, o Pico de Itabirito.
    [O Pico do Itabirito está situado no município de Itabirito, Minas Gerais, e possui uma altitude de 1.586 metros. Originado de um monolito sem igual no mundo, que é formado por um único bloco de hematita compacta, com alto teor de ferro, constituindo-se numa reserva de aproximadamente 94 milhões de toneladas do minério. É um patrimônio histórico natural tombado pela constituição do estado de Minas Gerais, promulgada em 21 de setembro de 1989.]
    fonte:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Pico_do_Itabirito
    2 - A cena do carro, gravada a noite com uma lanterna acesa dentro do carro, foi feita no Viaduto Santa Teresa, com o carro vindo da Floresta e virando a esquerda na Rua da Bahia e depois a direita na Avenida Afonso Pena em direção a Praça Sete. Dá pra ver na hora da curva, ao fundo, o "Mercado das Flores" localizado na esquina da Avenida Afonso Pena, número 1055, com a rua da Bahia.
    O tradicional Mercado das Flores, situado á avenida Afonso Pena esquina com a rua da Bahia, guarda em seu espaço físico histórias e reminiscências de um local que já foi palco de várias transformações. A principal Agência de Bondes de Belo Horizonte funcionava ali. Em 1910 verifica-se sua primeira reforma para mais tarde ser construído um torreão central com o objetivo de alojar o segundo mostrador público da cidade. Com o argumento de que o prédio destoava a arquitetura moderna da cidade, a agência é demolida em 1946. Um novo abrigo de bondes é construído no mesmo lugar - considerado reduto de marginais, mendigos e desocupados -para ser desativado em 1963 sob a alegação de que o sistema de transporte passava por dificuldades. A partir daí, o abrigo é transformado em galeria de artes e exposições para mais tarde ser finalmente transformado em nosso velho conhecido Mercado das Flores.

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  11. fonte do texto do leonardo amaral:
    "Por uma estética sertaneja, ou, sobretudo, por um projeto estético mineiro"
    Edição 32 revista eletrônica de cinema Filme Polvo:
    http://www.filmespolvo.com.br/site/artigos/cinetoscopio/493


    ***
    abrx
    mrlx

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  12. toque do Geraldo Veloso sobre Bang Bang:
    [parte do] texto do Geraldo Veloso:
    "POR UMA ARQUEOLOGIA DO 'OUTRO' CINEMA"
    reproduzido na revista de cinema:
    http://www.contracampo.com.br/92/artoutrocinema.htm
    __________

    [...]

    Tonacci e Sylvio Lanna, unidos na Total Filmes, vão realizar em Minas, com recursos do Banco do Estado de São Paulo (Comissão de Cinema de São Paulo), Bang Bang (de Tonacci) e Sagrada Família (que chamou-se, antes, Decúbito Dorsal e Ilegítima Defesa), de Sylvio.


    [...]


    O que havia "começado" em Piranhas..., esta documentação quase etnográfica (não o seria, exatamente no sentido científico, já que o sujeito e objeto eram uma unidade só), iria continuar em Perdidos..., radicalizar-se em A Família do Barulho, em Sem Essa, Aranha, Barão Olavo, o Horrível e, finalmente, em Sagrada Família e chegaria ao seu delírio em Mangue Bangue. Andrea Tonacci tinha nos dado a noção do nonsense "pop" com o seu Bangue Bangue – fábula absurda armada em torno de uma noção imagística de extremo bom gosto, reunindo obsessões num work-in-progress coletivo habilmente conduzido (a cigana, o bode expiatório simplório, o grupo grotesco de bandidos, o mágico, o "kitsch" representado pela jukebox e outros elementos, o cinema de Hatari, a pop art de Rosenquist e Rauschenberg, o Buick-42, o visual mais delirante, marcado por uma magistral fotografia, em preto e branco/Ferrania, do Tiago Veloso, numa das mais belas visões de Belo Horizonte, desde Sangue Mineiro, de Mauro).

    [...]

    ***
    fonte:
    http://www.contracampo.com.br/92/artoutrocinema.htm

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