sexta-feira, 5 de junho de 2009

RELAÇÕES EXPRESSIONISTAS


A Mulher do Fazendeiro, Alfred Hitchcock, 1928.


Morte no Quarto da Doente, Edvard Münch, 1895.

É bom poder falar de um filme de Hitchcock sem aquela minha habitual empolgação e mesmo obsessão com tudo que ele faz, assim minha consciência fica mais tranqüila e quase me convence que minhas opiniões a respeito da obra do mestre não são tão passionais como eu demonstro. A Mulher do Fazendeiro (The Farmer’s Wife), outra das preciosidades que consegui no Making Off, na verdade é apenas um exercício de humor dentro da filmografia hitchcockiana, que sequer alcança os preciosismos de O Terceiro Tiro (1956), melhor incursão no humor (negro) do cineasta.

O filme em questão sobrevive como uma anedota burlesca sem maiores pretensões, onde se destacam apenas a direção de atores (todos eficientes) e mínimos pormenores técnicos, reclusos quase inteiramente aos primeiros minutos da película. Entre os quais destaco a abertura com a apresentação cênica feita enquanto acompanhamos dois cachorrinhos, a boa utilização das paisagens (espaço raramente utilizado no restante de sua obra), e algumas significações colocadas sobre objetos específicos (como a cadeira da falecida mulher).

Uma cena que chamo atenção pelo imaginário expressionista (Hitchc era discípulo ardoroso do expressionismo alemão presente em todas as formas artísticas) e que me saltou aos olhos pelo relacionamento possível com a obra de um dos poucos pintores que conheço mais o fundo (o que me permite enxergar a relação) é a que está aí no alto. Percebam como o quarto da mulher agonizante flerta com a ambientação de Münch em um de seus autobiográficos (a morte era um tema constante em sua arte). A distribuição do mobiliário e mesmo o quadrinho na parede não me deixam mentir na influência que o mestre pode ter recebido do quadro que eu selecionei (há vários outros Münch que são variações desse).

Bem, se não temos o prazer de nenhum assassinato em A Mulher do Fazendeiro (esse é um dos únicos que eu não classificaria como suspense dentro de tudo que Hitchc fez), ao menos fica a imagem carregada dessa melancolia fúnebre tão cara ao cinema.

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