sexta-feira, 5 de junho de 2009

A (RE)SIGNIFICAÇÃO DO CORPO


Senhores do Crime, David Cronenberg, 2007.

Prosseguindo na pesquisa sobre as tatuagens em Cronenberg:

Temos vivido desde os impulsos iniciais da Modernidade uma revitalização nas utilizações do corpo que passou a compreender esse elemento em seu estatuto de ‘objeto’, aceitando-o mesmo sob essa perspectiva, como uma expressão maior do ‘sujeito humano’. Tais manipulações, advindas das mais diversas áreas, encontram no caráter artístico uma das facetas mais reveladoras e ricas em interpretação para se vislumbrar a posição do corpo na atualidade. Isso, porque a possibilidade do estético no fisicamente natural gera uma gama de expectativas que ultrapassam a compreensão comum do referente original.

As utilizações do corpo humano na Modernidade passaram a variar entre inúmeras intenções, todas elas visando mais do que enxergar o corpo como um mero suporte de vida. As artes, a partir do conceito de performance, aproveitam o corpo humano não apenas como um objeto a ser ‘representado’, mas sim um suporte passível de ‘apresentar’ determinadas propostas estéticas. A partir do corpo se pode criar, com o corpo é possível mimetizar, no corpo encontramos a principal matéria-prima da Arte Moderna.

Semelhantemente à prática da performance, a apresentação de um corpo tatuado também alcança um aproveitamento expressivo que desloca o suporte de sua condição habitual. Atividade milenar, a inscrição das tatuagens sobre o corpo pode ou não ser dotada de uma intenção artística, mas nunca ela excluirá o elemento estético de sua exibição.

(...)

Esse é justamente o motivo do corpo que se dá a tatuar, em qualquer situação: (re)significar-se num novo horizonte de sentidos e subjetivar as propriedades da carne possibilitando através do corpo um novo discurso de margem existencial.

Como vimos em Jeudy o colocar da pele em ‘existir’, temos num autor também lembrado por ele, Daniel Sibony, a compreensão de que “para cada um, seu corpo é seu acontecimento do ser, tão essencial que se torna metáfora do ser (...) metáfora do universo e de seus potenciais de existência.” (apud JEUDY, 2002, p.66) Dessa forma, sendo iluminado como metáfora, o corpo tatuado parece sobreviver em estado poético, de graça e conhecimento. Sua presença passa a nutrir uma renovada dinâmica de desejos, não satisfeitos, pois vivos e vivificadores.

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