sexta-feira, 5 de junho de 2009

RETÁBULO DE JERÔNIMO BOSCH


Já está mais do que na hora de eu indicar o livro ilustrado acima: Retábulo de Jerônimo Bosch de Everardo Norões, amigo a quem devo agradecer inicialmente por toda estima e atenção que dedica aos próximos, tendo mesmo me presenteado com sua mais nova criação e entregando-me com isso, uma parte de si.

Aliás, aproveito para esclarecer que o fato de conhecer Everardo pessoalmente não será preponderante a tudo que registrarei por aqui. Não pretendo escrever para agradá-lo (aviso a possíveis más línguas que surjam, rsrsrs...), mas sim, como o tenho feito nos últimos meses, para compartilhar com todos das coisas que têm me tocado, que têm se importado em me alcançar nessa minha vidinha para provar que há algo maior a ser provado, descoberto, vivido.

Nem me considero (todos já sabem) digno de comentar tal obra. Minha recente iniciação poética foi confessada aqui, por isso divido com todos esses primeiros passos, engatinhados com tremor, mas seguros do caminho a ser percorrido. O curioso é que mencionei A Rua do Padre Inglês (livro anterior de Everardo) como minha primeira ‘aquisição’ poética espontânea, mas que não por obra do acaso acabou sendo substituída na ordem da leitura pelo Retábulo. Descobrirei no caminho as conseqüências de tais acontecimentos...

Dividido em 7 partes, o livro propõe desde o título, um diálogo com as artes plásticas (ah, como eu queria mais competência para me aventurar na intersemiose aí latente) e principalmente, com a natureza e o mundo das coisas em que o homem está inserido. A memória, a linguagem, o ser e o estar no mundo, são todos elementos que sobressaem em cada verso, encarnando através da palavra uma necessidade de afirmação da existência do autor. Os primeiros versos que pretendo compartilhar dessa obra são justamente a prova de minha última afirmação, síntese de um homem que precisa, antes de tudo, submeter-se ao poético, servi-lo. Em Nihil Obstat (p.99) ouvimos:

/.../
Tenho fome de palavras
para designar o feio,
auscultar os caminhos,
diluir a vontade.
Tenho sede da língua que não domo.
/.../
Assim,
faço do fio negro
a escorrer no papel
o traço de minha servidão.

Pois é, desde os títulos dos poemas, uma pesquisa mínima torna-se obrigatória... Por isso a breve explicação:

O Nihil obstat ("nada impede") é a aprovação oficial do ponto de vista moral e doutrinário de uma obra que aspira ser publicada, realizada por um censor da Igreja Católica. A expressão abrevia outra expressão latina maior, Nihil obstat quominus imprimatur, que quer dizer "não existe impedimento para que seja impressa". É uma das três autorizações que podem ser requeridas para que uma obra tenha sua publicação autorizada, juntamente com o Imprimiri potest e o Imprimatur.

Com isso, entendemos que a servidão imposta (voluntária?) carece primordialmente da eliminação absoluta dos impedimentos. Impedimentos de linguagem, de moralidades, de modismos artísticos, e acima de tudo, o impedimento da expressão. Na poesia de Everardo a única coisa a ser impedida é o silêncio. O silêncio que tem rondado a literatura das atualidades. O silêncio que tem calado a capacidade, oportunidade e necessidade de reflexão apropriada ao fazer artístico.

Bem, como dito, durante esse mês pretendo me debruçar mais vezes sobre esse belo livro, classificado pelo querido Fábio Andrade como um “acontecimento na literatura brasileira”. E óbvio, uma referência que permanecerá por toda vida.

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